CRACK X OXI
Feito a base de cocaína, combustível e cal virgem, o Oxi – uma versão
ainda mais corrosiva do crack – começa a circular no sudeste do País
após seguidas apreensões da droga. Mercadoria recém chegada à
cracolândia, maior pólo de usuários de droga do Brasil, no centro da
capital paulista, o oxi é considerado por especialistas em dependência
química como a versão pirata do crack.
Até agora, 1% da clientela atendida pelo Centro de Referência de Álcool,
Tabaco e outras drogas (Cratod), revelou ter consumido a droga sem
consciência de que não usava a pedra tradicional, feita da mistura de
pasta base de coca ou cocaína refinada com água e bicabornato de sódio.
“Os usuários que atendemos acham que fumaram o oxi pelo gosto de
gasolina que sentiram na boca após consumirem o que pensavam ser crack.
Eles afirmam que foram enganados”, pontua Marta Ana Joezierski,
diretora do Órgão.
A especialista explica que a droga não tem apelo ao consumidor do crack.
Além de mais nocivo do que o produto ‘original’ o oxi queima a garganta e
deixa como resquício o gosto de combustível muito forte na boca. Os efeitos
alucinógenos são exatamente os mesmos provocados pelo crack. “Não é uma
substância para consumo humano, é para máquinas", assevera Marta.
O oxi contém múltiplos resíduos, é mais agressivo ao sistema respiratório,
além de ser um veneno para o fígado e rins. Carlos Salgado, presidente da
Associação Brasileira de Estudo sobre Álcool e Drogas (Abead) e psiquiatra
da Unidade de Dependência Química do Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre,
endossa o baixo interesse dos dependentes químicos na suposta nova droga.
“Não há diferenças no efeito, na reação que o usuário busca na droga, por
isso é difícil reconhecer quem está usando. É apenas um produto mais barato,
grosseiro e ainda mais agressivo. A gasolina inalada pode inutilizar rins e fígado
rapidamente.”
Fim da linha
Apreensivo com a versão mais tosca do crack, Ronaldo Laranjeira, psiquiatra
da Univesidade Federal de São Paulo (Unifesp) e especialista no assunto,
acredita que o efeito do oxi será ainda mais devastador nos usuários antigos,
chamados de forma pejorativa de “craqueiros”.
“Nenhum usuário recente buscará pelo oxi. Ele é conhecido pelas pessoas que
já estão bastante debilitadas pela droga original. Na falta do crack após uma
longa noite de consumo, o oxi é a alternativa mais barata, e nem sempre uma
escolha.”
Para Laranjeiras, a droga fresca no mercado, mesmo que não arrebate
consumidores
oficiais, retroalimentará a espiral de um problema crônico de saúde pública:
o ineficaz programa do governo de combate às drogas.
“Precisamos de um tratamento estruturado, regionalizado. Eu defendo a idéia
de não tolerar o uso público do crack. A repressão eliminaria a cracolândia,
mas é preciso oferece um serviço eficaz de assistência social ao usuário,
com internação, tratamento. Todos os países que permitiram o uso público
se deram muito mal.”
Dados iniciais
Estima-se que a circulação do oxi no Brasil tenha começado em 2004, pelo
norte do País. Índices isolados mostram que sua ação é ainda mais letal.
Enquanto o usuário de crack vive de quatro a 15 anos, o oxi já matou 30 pessoas
no Acre em apenas um ano de consumo.
“Talvez a gente tenha menos trabalho no atendimento, por que esses usuários
morrerão antes de pedir ajuda”, prevê a diretora do Cratod.
Crack x Oxi
elevam as chances de infarto e comprometem, a longo prazo, o sistema
respiratório. O Oxi, por conter gasolina na composição, ainda é extremamente
prejudicial ao fígado e rins, podendo provocar a falência de tais orgãos.
A coloração do crack é branca, enquanto o oxi pode ser encontrado nas versões
amarela e roxa, conforme a concentração de gasolina e cal virgem, respectivamente.
"São drogas altamente destruidoras, principalmente por que os indivíduos fazem
jornadas de uso sem hidratação ou alimentação. É uma exposição intensa e
bombástica.
Ficam emagrecidos, depauperados. Em muitos casos, o quadro é irreversível",
alerta Carlos Salgado, presidente da Abead.
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